Quando eu comecei a estudar pra concurso, meu desespero era ver no edital que haveria prova discursiva. Fossem questões discursivas ou um texto dissertativo, meu coração já apertava e eu achava que não tinha chance. Até que eu aprendi a fazer um “esqueleto de texto”, que ninguém nunca tinha me ensinado nem na escola, nem na graduação, e MUDOU MINHA VIDA! O conceito é todo muito simples, e aposto que um bocado de gente já faz. Mas acho que nem todo mundo conhece, e né? Vai que é útil pra alguém…
Quando a gente monta um “esqueleto de texto” a gente cria uma estrutura bem sólida que orienta o texto e evita que a gente escreve demais ou até “demenos”. A estrutura como a do corpo humano: cabeça, corpo, membros. Só que pra fingir que eu sou muito formal, vamos chamar esses carinhas de INTRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO e CONCLUSÃO (que aí a gente já relembra os elementos textuais de trabalhos acadêmicos e estuda a NBR14724. Aqui é MULTIFUNÇÃO, meus amigos!).
Quando pensamos na introdução de um texto podemos pensar no trailer de um filme: é um mostra-não-mostra, que dá aquele leve spoiler… Ele não conta tudo, mas mantém o leitor interessado! Esse é o momento de apresentar o seu PONTO DE VISTA e a sua MOTIVAÇÃO para escrever o texto. Sabe? – Não. Calma. Já vai ficar mais claro. Você chega lá pra fazer a prova, corre pra ver sobre o que essa galera tanto quer que você escreva. Momento de fazer teu brainstorm! – Favor parar com os estrangeirismos. – Ok.
Rabisca num canto do papel qual é a tua opinião, o teu ponto de vista sobre o assunto, o aspecto que você acha relevante na discussão proposta pela banca… Essa é a chave da introdução desse texto! Mas não comece a escrever ainda. Porque essa tempestade de ideia precisa continuar.
Pense! Pense e identifique 3 argumentos que corroboram/justificam o teu ponto de vista. Se você consegue identificar mais de 3, anote TODOS. Depois identifique quais são os mais fortes ou sobre quais você consegue escrever melhor. Escolha os 3 campeões e reserve. Chegou a hora de conquistar o mundo. MENTIRA! Jamais tente conquistar o mundo numa conclusão de texto. Esse é o momento de resumir o que foi apresentado, e – dependendo da questão – apresentar uma solução. Escreve as palavras chaves para isso e reserve também. Esqueleto de texto deste texto (dá pra considerar um meta-esqueleto?)
– Na prova não pode usar post-it =(
Aí você vai fazer a prova. – Talita, a questão discursiva é a última da prova, eu já fiz a prova, cê tá louca? – A questão ficar lá no final é igual receita de bolo. Depois que você misturou o fermento vem alguém e avisa que você deveria ter pré-aquecido o forno. ¬¬’ Mas a gente já tá malandro nisso. Fez o esqueleto ANTES da prova. Ok? Pois bem. Faça a prova, saia pra tomar uma água, fazer um pipstop, qualquer coisa. Volte de cabeça leve e finalmente escreva. Esteja sempre com seu esqueleto no meio da tua cara na sua frente e acompanhe essa dinâmica que já tá pré-estabelecida. Escreveu? Vá revisar a prova objetiva. – Talita, mas… – Cara, é o lance do bolo, fermento, forno DE NOVO. Revisa a objetiva. Daí depois você revisa a redação.
Isso tudo é pra fazer com que você leia com outros olhos tanto as questões que você fez bem na louca ou aquelas em que você ficou com dúvida, quanto a redação que tá no forno bem quietinha crescendo. Não abre o forno antes da hora ou esse bolo vai solar! Assim como a receita do bolo, os textos precisam ter equilíbrio. Visual e de conteúdo. O limite de linhas dado pela banca te dá uma orientação de como se comportar. Por quê? Vejamos. O ideal é que você utilize NO MÍNIMO 50% do espaço disponível. A prova não é um tweet! Parágrafos ocupam – geralmente – umas 5 linhas cada.
Se cada item do teu esqueleto virar um parágrafo, você tem uma redação de 25 linhas mais ou menos: 1 parágrafo para introdução, 1 para cada argumento do desenvolvimento e 1 para a conclusão (considerando que o limite costuma ser de 30 linhas, olha que coisinha mais graciosa que você tá fazendo, cara, que orgulho!)
Se o limite for de 60 linhas, você pode ser um pouco mais falastrão e estruturar suas ideias em 2 parágrafos para cada item do esqueleto!
Como o espaço é limitado, é bacana evitar aquelas frases muito longas, que levam o corretor do texto ao desespero. Ele não tá corrigindo só a sua prova, lembre-se disso. Mas também é legal você mostrar que não saiu direto do segundo ano do ensino fundamental para a prova do concurso. Frases curtinhas, com sujeito + verbo + predicado, sem nenhum tipo de recurso extra, podem empobrecer bastante o seu texto.
No mais, em um texto dissertativo-argumentativo o que as bancas querem (geralmente) não é uma resposta certa. É ver a sua capacidade de argumentar a respeito da sua opinião sobre um assunto. Pode ver que a maioria dos temas não tem uma resposta certa e parece ser “de opinião”, mesmo. É diferente de uma questão discursiva, onde existe uma resposta certa que a banca quer ler, além de ver a sua capacidade de se expressar por escrito. Mas em ambos os casos, estruture sua resposta, utilize um vocabulário compatível com o seu nível de conhecimento, e com a formalidade necessária (mas que não deve ser excessiva) a este tipo de texto.
É assim que o sucesso vem!
TALITA JAMES
– Bibliotecária formada pela Universidade de Brasília, trabalha atualmente no Supremo Tribunal Federal e é mestranda em Ciência da Informação na Universidade Federal de São Carlos. É colaboradora do Santa Biblioteconomia escrevendo no blog e ministrando cursos. Carioca de nascimento, brasiliense de carreira, cidadã do mundo por opção. Na biblioteca fala baixo e fora dela, toca.