Quando eu estava no terceiro ano do ensino médio, e chegou aquela hora de escolher o curso eu sabia o que eu queria: DESENHO INDUSTRIAL. HAHAHA (É sério, mas pode rir. Vai fundo. Eu espero. Ok. Passou? Vambora.)
Mas minha família não tinha grana nem pros livros, aquele ano, ia lá ter dinheiro pra eu fazer um cursinho de habilidade específica? Nunca. Mas ainda assim eu me inscrevi pra tentar uma vaga em DI. Como existia a prova de habilidade específica, para o caso do aluno não ser aprovado, a gente devia escolher uma “segunda opção” de curso. E eu bati cabeça até escolher minha segunda opção.
Naquela época, eu estudava em um colégio na Asa Norte e morava em uma região de condomínios em Sobradinho (quem é de Brasília sabe que é afastado e que não tem ônibus direito pra lá). Mas naquela época beirava o impossível. Em 2001 eu já trabalhava e meu esquema era outro. Mas entre 1997 e 2000 meu rolê era sair da aula e ficar esperando meu pai me buscar. E eu fazia isso dentro da biblioteca. Tinha esse privilégio: escola com biblioteca.
Entre 1997 e 1998 eu estudava à tarde, meus pais ralavam o c* na ostra e as costas nos corais enquanto eu esperava por eles na biblioteca até as 21:00, as vezes 22:00. Paciência. Era o que tinha. Fazia um lanche, preparava dever de casa, estudava, trocava ideia com a galera do supletivo, às vezes cochilava. Quando eu saia da aula as 18:30 era bom, até. Quando eu não tinha aula e eles liberavam os alunos mais cedo por falta de professor era meio zoado, porque eu entrava na biblioteca as 15:30, 16:00. Mas não era ruim, não.
Nos outros anos eu estudava de manhã e o horário de almoço do meu pai era mais certinho. Então, eu só ficava pela biblioteca quando faltava professor, semana de prova, etc. Mas aí eu já fazia MUITA questão de ir pra lá, mesmo que minhas amigas estivessem pela escola.
Eu devorei muitas prateleiras completas da parte de literatura infanto-juvenil, alguma coisa da literatura adulta, e chegou um ponto que a balconista (não era bibliotecária, então sorry, não vai ser chamada assim) nem fazia mais os empréstimos. Eu tirava livro livremente das estantes, da biblioteca, da escola, e TUDO BEM. O.O
Depois de muito, muito, muito ler o Guia que a UnB oferecia pra escolha da segunda opção de curso, eu percebi que a resposta estava bem perto. Na verdade, eu estava DENTRO dela. A descrição do curso, das atividades, das disciplinas me convenceu: se é aqui que eu passo tanto tempo me sentindo bem e segura… Por que não?
Quando veio o resultado de reprovação da prova de habilidade específica eu chorei (ah, jura?!) por dias a fio. Mas fiz a prova do vestibular, e mesmo sem livro, trabalhando, e tendo pouco tempo pros estudo eu… PASSEI! Meus pais me garantiram que se eu não curtisse era só parar, a qualquer momento, e a gente estaria juntos como sempre foi. E aí eu fui. Primeira da família numa universidade federal, credo, que nojo!
Com duas semanas de aula eu já sabia: aquela reprovação na prova de habilidade específica foi a MELHOR coisa que poderia ter me acontecido. Eu me encantei pelo curso. Pelos professores. Pelas aulas. Pela carreira. Pelos ambientes.
E de lá pra cá é todo dia esse encantamento. Aprendizado. Ensino. Progressão. Vivência.
Eu amo ser bibliotecária. É um amor maior que eu mesma!
E você? Como se encontrou na Biblioteconomia?
Amei seu relato… Também sou bibliotecária moçambicana e apaixonada pela área, acho que a maioria das pessoas que entram para curso vêm mesmo da segunda opção e está também é minha história, pois eu queria fazer tradução de francês, não ter sido admitida na primeira opção, foi a melhor coisa que a aconteceu na minha vida, pois aqui estou me descobrindo e aperfeiçoando como bibliotecária.